Na minha visão, é muito claro e óbvio para todos que tem bom senso, que a criatividade e a inovação são fundamentais para o dia a dia cada vez mais competitivo de um mundo onde a diferenciação não existe mais “per si”, mas deve ser buscada, criada, forjada e até mesmo arrancada da miscigenação entre os contextos, as experiências e os sonhos de cada um de nós.
Também é óbvio que em nosso dia-a-dia, não nos preocupamos suficientemente com a formação de ambientes profissionais onde esses conceitos possam florescer, e mesmo quando o fazemos, ainda não temos os meios e os métodos para transformar a nossa realidade.
Mas a síntese que eu tiro de todas as reflexões é muito mais provocativa que conclusiva.
Como disse o Professor José Carlos Teixeira Moreira, a metáfora começou a se formar quando o Professor Rui Ohtake afirmou (muito modestamente) que era um criador, e que não tinha familiaridade ou conforto em empreender, e que para isso, precisava da associação de empresários e executivos.
Colocando-me na posição de criador (apesar de ter abandonado a produção de esculturas continuo criando novas formas em materiais e experimentações diferentes todos os dias em minha cabeça) percebo o seguinte:
No nosso contexto amplo (claramente representado no público do Fórum), podemos encontrar diversos personagens que tem navegado em torno do tema, mas 3 se destacam com clareza: O Criador, O Empreendedor e o Educador.
O Criador vive confortavelmente imerso no caos, buscando em sua aparente falta de estrutura e formalismo, todas as pontes e conexões que precisa para criar suas alegorias. O Criador experimenta livremente, desenvolvendo narrativas e conceitos que o levam ao momento máximo do processo, os "Insights" ou "Enlightments". Desse exercício surgem ideias e concepções que ainda não são Inovações, por carecerem muitas vezes das justificativas que deverão agregar a utilidade e a viabilidade das ideias e concepções para influenciar a vida das pessoas, criar novos influxos de sonhos e desejos, novas visões de prazer, onirismo e até mesmo de praticidade e melhoria da qualidade do viver no dia-a-dia das pessoas.
Mas a função do Criador é permanecer imerso no caos, realizando com grande esforço o enorme trabalho de construir pontes e conexões entre os elementos mais adversos, gerando novos Insights ou Enlightments, e assim sucessivamente, praticamente viciado no prazer propiciado por esses momentos mágicos de concatenação de ideias e intuição, e na materialização do novo.
Por outro lado, temos o Empreendedor, o empresário ou executivo, que aprendeu e foi treinado para viver em uma organização estruturada, armando-se todos os dias de esquemas, processos, controles, e meios de medir e avaliar o risco de ousar e se aventurar fora dos padrões, em busca da diferenciação e da inovação. Ele tem ainda, o pesado fardo da responsabilidade pela “justificativa”, e deve construi-la diariamente para si mesmo e para os outros, que o cobram dioturnamente o menor risco e o melhor resultado, previsível e em alguns casos extremos, até mesmo determinista.
O Criador vive imerso no caos e o Empreendedor vive imerso no formalismo e na estruturação.
As forças que compõe o processo de transformação de uma criação em Inovação unem esses dois mundos, aproximando os dois personagens de sua fronteira, unindo-os e fazendo-os interagir e trabalhar juntos através dessa fronteira. Para isso ainda não temos método ou receitas a serem seguidas, e provavelmente nunca as teremos dado o dinamismo a as possibilidades infinitas de arranjos que podem propiciar essa interação.
Quando não há método, ainda assim podemos induzir o comportamento pela adoção de posturas que mudem o comportamento e propiciem novas possibilidades. Na mecânica quântica, quando estimulamos uma partícula a abandonar seu estado de inércia, independentemente da energia empregada no processo, existe uma nuvem de possibilidades de novas posições e estados físicos que essa partícula pode adotar. O que pode influenciar é a atitude ou o comportamento ativo ou passivo tanto da partícula quanto da fonte da energia aplicada, na intenção do resultado.
No caso da Inovação, também existe uma nuvem de possibilidades de resultados diferentes para a interação entre o empreendedor e o criador, mas não há métodos para assegurar resultados previsíveis no esquema formal e estruturado onde a criação deverá se tornar uma inovação, portanto, o único recurso que temos para influenciar essa processo é a nossa atitude.
Tanto o Criador quanto o Empreendedor devem ser Observadores Ativos nesse processo, observando e percebendo, mas dialogando constantemente através da fronteira entre o formalismo, a estrutura e o caos. Observando o comportamento, questionando de forma positiva, especulando e tentando influenciar um ao outro através da fronteira, para escolher, influenciar e transformar uma criação em uma Inovação capaz de criar e sustentar surpresas, experiências e sonhos que irão influenciar o dia-adia das pessoas, tornando-se um produto ou um serviço genuinamente indispensável.
Nesse processo, a análise ou a percepção das tendências de comportamento coletivo podem ser um instrumento indispensável no direcionamento do diálogo, mas não na influencia direta dos resultados, pois isso empobreceria a Inovação de originalidade e de conteúdo experimental genuíno, tornando-se uma mera imitação.
O outro personagem que tem um papel preponderante na linha histórica dessa questão é o Educador, que como o Empreendedor, está do lado formal e estrutural da equação. Mas não se pode falar em Educador sem falar em Educando, e estes, como os Criadores, estão também imersos no caos. Mas o papel do Educador nesse processo é diferente do papel do Empreendedor. O Educador deve se despir do formalismo e das estruturas e deve mergulhar no caos em busca dos Educandos. Deve orientá-los a se aproximar da fronteira entre o caos e o formalismo, mas não pode influenciar o Educando na sua escolha em permanecer no caos, ou atravessar a fronteira para o outro lado, pois não há um lado certo nessa fronteira. Por outro lado, se o Educador for especialmente eficiente, ele pode fazer a linha tênue da fronteira desaparecer, se desvanecendo em uma névoa, atenuando a fronteira para que possamos ter Empreendedores se aventurando no caos e Criadores experimentando o formalismo e a estruturação do mercado.
A responsabilidade do Educador é maior, na medida em que ele também deve assumir a postura de observador ativo, deve provocar e estimular, mas aqui ele deve esforçar-se ao máximo para não influenciar. Educar é o ato de conduzir à descoberta e não o ato de descortinar a verdade, pois a verdade é claramente uma nuvem de possibilidades quânticas.
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