quinta-feira, 12 de março de 2009

Gestão da Performance Corporativa em tempos de crise

Nunca a gestão precisa e ágil da performance dos negócios e das operações da companhia esteve tão em evidência.

É claro que em tempos de crise, apertar os cintos, maximizar, optimizar, enxugar, reduzir e outros termos são palavra de ordem em toda e qualquer reunião executiva.

O problema porém é que mesmo após décadas de maciços investimentos em desenvolvimento de sistemas, pacotes de software, customização de aplicações, redesenho de processos, integração de dados e sistemas e outros investimentos, a grande maioria das empresas ainda não tem uma plataforma leve, ágil, rápida e flexível para acompanhar e gerir com eficácia a performance de seus negócios e de duas operações.

Desde os primórdios da Teoria Geral da Administração de Empresas que temos perseguido a meta de alinhar e sincronizar planejamento estratégico com operações e com o dia-a-dia mas a rapidez com que os negócios mudam e a nuvem de possibilidades e adversidades as quais os negócios estão sujeitos hoje, não são compatíveis com os sistemas e processos transacionais e de operações que normalmente implementamos.

Os grandes sistemas "ERP" da década de noventa, as soluções de "Business Inteligence" ou mesmo os custosos "Data Warehouses" não tem se mostrado capazes de cumprir esta tarefa, e os executivos continuam tomando decisões e reagindo a adversidades e descontinuidades de cenários estratégicos, na velocidade e extensão que suas plataformas transacionais de tecnologia da informação e não na velocidade da competitividade e do mercado.

Em um mundo globalmente competitivo e "digitalizado" como o de hoje (Mundo 2.0) é fácil imaginar o problema que a falta de velocidade de analise e reação pode representar para a gestão de qualquer empresa.

Mas então caminhamos tanto, evoluímos tanto a tecnologia e o pensamento estratégico e ainda não conseguimos prover aos Executivos um punhado de ferramentas confiáveis para de fato gerir com eficácia?

Sim e Não...

Temos a tecnologia necessária e temos os processos e metodologias apropriados, porém não temos ainda a cultura e para implementar de alto a baixo a disciplina necessária para isso.

A tecnologia também não está assim tão "à mão" como se poderia imaginar, mas existe e está solidamente testada e madura para a tarefa.

O que precisamos é a clareza de escolher dentre todos os processos, produtos, serviços e demais componentes, onde vale mesmo a pena investir em mudança de cultura e integração de procedimentos e ferramental tecnológico.

É muito comum nas empresas que se faça um controle praticamente empírico ou puramente financeiro da performance, ou em outro extremo, que se procure adotar níveis complexos de controle e monitoramento em todas as áreas e linhas de negócio, independente de sua real "margem de contribuição" para a estratégia, o crescimento e o "Bottow Line".

A primeira lição que se deve aprender é que controle e gestão são custosos em vários aspectos e somente devem ser aplicados em dois casos:
  • áreas onde o controle de custos seja fundamental para manter o equilíbrio e qualquer alteração mínima pode causar perdas memoráveis; e
  • áreas onde o crescimento seja crucial para atender a visão estratégica de médio e longo prazos.

Nas demais áreas simplesmente o investimento não vale a pena e os processos podem até burocratizar e atrapalhar mais do que ajudar...

Com essa lição aprendida (óbvia mas não trivial), o resto são processos e a adoção e integração de ferramentas que criem um ciclo perpétuo envolvendo as seguintes fases:

  • Planejamento
  • Execução
  • Monitoramento
  • Avaliação
  • Re-planejamento ...

As ferramentas fundamentais para suportar esse ciclo, além de toda a parafernália transacional da TI (que apesar de tudo as empresas não podem prescindir) são as seguintes:

  • Planejamento Financeiro Corporativo, com capacidade de derivar cenários e inserir variáveis ilimitadas para testar possibilidades e contingências;
  • Sistema de indicadores de performance (KPIs) para cada processo, integrados em estrutura de causa / efeito; e
  • Plataforma de Business Inteligence para acompanhamento das transações do dia-a-dia e sistema de "Reporting" para desenvolvimento rápido de relatórios para todos os fins.

A capacidade de planejamento, execução, análise e simulação destas ferramentas integradas já permite aos executivos um grande salto de qualidade e agilidade no processo de gestão, mas a tecnologia sobre a qual estas ferramentas foram desenvolvidas precisa também acompanhar a velocidade e a capacidade de colaboração do "Mundo 2.0" (temos muita coisa boa porém velha, mas ainda disponível no mercado).

Mas para realmente orquestrar ferramentas, processos e até mesmo uma cultura organizacional orientada a excelência dos resultados, o último componente fundamental é a disciplina de execução.

Disciplina de execução desde os procedimentos da alta gestão na analise e no estudo dos cenários de planejamento estratégico e avaliação das possíveis descontinuidades no horizonte, até os procedimentos operacionais mais elementares que contribuem ou influenciam no resultado final.

A ciência embutida em todo esse processo está justamente na capacidade de calibrar o elo de ligação entre cada um dos processos e das atividades diretas ou indiretas, através da estrutura de causa e efeito que consolida a contribuição de cada componente no todo.

Em momentos de crise como o que estamos vivendo, este ciclo virtuoso de planejamento, execução, avaliação e re-planejamento é muito mais eficiente, inovador e inteligente do que a tesoura generalizada que temos acompanhado nos noticiários nacionais e internacionais.

Esta cultura do "cortar para sobreviver" é alimentada pela inércia dos nossos homens de ação, que ao invés de inovar, copiam, ao invés de antecipar, aproveitam momentos como esse para corrigir ineficiências históricas e mais do que isso, não tem agilidade e leveza suficientes para aproveitar as enormes oportunidades que nascem no ventre de cada crise.

Bom dia! Seja Feliz!

terça-feira, 10 de março de 2009

Mundo 2.0

Sentimos falta da Educação Formal no Brasil, porém, adaptabilidade, educação informal e experimentação cultural nós temos de sobra. É por isso que somos um grande fenômeno muito interessante e um campo de provas para as novas tecnologias disponíveis ao grande público. Os números do crescimento da penetração da Web no Brasil continuam a assombrar os analistas e a sofisticação do uso da Web e de ferramentas "2.0" nos tornam uma das fronteiras mais interessantes de experimentações sobre Redes Sociais, Wikis, RSSs, Twiters e outros...

Existe um novo ruído no ar, ainda muito baixo e soprando apenas pelos cantos, só que as pessoas e as empresas mais sensíveis já percebem os novos espaços e possibilidades e já começam a surfar nas novas possibilidades de negócio que se apresentam.

A tônica do futuro é o compartilhamento e a colaboração. Criatividade e velocidade darão o ritmo da geração de receita no espaço digital 2.0, ou através dele. Como disse um grande amigo esta tarde - Augusto Pinto - o mundo está virando seu foco dos inventores e detentores de propriedade intelectual para aqueles que tem acesso a informação, e consegue rapidamente contextualizá-la, incrementá-la e distribuí-la.

Ganhará mais quem tiver mais canais abertos e puder combinar, incrementar e distribuir conhecimento, idéias, modelos tecnológicos, modelos de negócio e qualquer tipo de conteúdo produtivo ou que vá de interesse de grupos ou comunidades através da Web.

Neste espaço, PHDs, Mestres, Altos Executivos, Políticos e outros "entitulados", concorrem igualmente comigo, com você e com qualquer um, esteja ele sentado teclando em Berkley ou em uma das LanHouses instaladas nas periferias e favelas do Brasil e do mundo.

Quem agregar contexto mais rapidamente e quem tiver criatividade e experiência cultural suficientes para tornar conteúdo e contexto relevantes para consumo vai ganhar a corrida, e para isso não tem Universidade ou qualquer curso. Para ganhar a corrida, precisamos de ferramentas como Criatividade, Adaptabilidade, Sociabilidade e Experimentação, e como vimos acima, apesar da falta de educação formal no Brasil estamos na frente e temos o potencial para criar por aqui a próxima "Google", "Yahoo" ...

Além disso, quando as empresas acordarem para o potencial criativo e colaborativo das comunidades sociais, verão quanto valor poderão trazer para seus produtos e serviços.

A Nokia é uma das empresas que já entendeu a força do mercado de consumo de baixa renda e a nova força que eles estão ganhando com a Web 2.0 e já tem laboratórios de desenvolvimento de produtos instalados dentro de favelas no Rio de Janeiro, Bangladesh e em outras periferias mundiais.

Esse movimento é que vai definitivamente democratizar a participação ativa de mais pessoas na geração e distribuição de riqueza no mundo 2.0.

Bom dia" Seja Feliz!

segunda-feira, 9 de março de 2009

A Microsoft querendo ser a Apple?

Desejo de ser Apple

Inveja? Despeito? Pragmatismo? Para se aproximar do consumidor, a Microsoft muda sua imagem. E, quem diria, usa as armas da Apple

Por Daniel Hessel Teich 05.03.2009 19h33 - Revista EXAME

Desde que Bill Gates e Steve Jobs fundaram a Microsoft e a Apple, nos anos 70, as duas empresas se colocaram como inimigas no mundo da tecnologia. A disputa entre dois dos maiores ícones do moderno capitalismo americano é tamanha que recentemente acabou apelidada de Guerra dos 30 Anos - uma referência à feroz contenda que dividiu católicos e protestantes e assolou a Europa no século 17. Na mesma velocidade com que Apple e Microsoft ganhavam relevância no mercado de tecnologia, Jobs e Gates passaram a trocar farpas, ora criticando métodos de gestão um do outro, ora criticando produtos desenvolvidos pelo rival. Demorou três décadas para que a rixa saísse dos escritórios e das reportagens especializadas e ganhasse os tons explícitos da publicidade. Embalada pela aura de inovação que cerca seus produtos, a Apple tem atacado diretamente a Microsoft em uma série de anúncios de TV batizada de "Get a Mac". Neles, dois personagens encarnam as empresas - um rapaz gorducho, de terno e gravata, chamado PC, simboliza a Microsoft. O jovem descolado, Mac, é a Apple. Invariavelmente, o PC - o sujeito careta - acaba ridicularizado pelo Mac.

Os passos da transformação

Ok. Bill Gates sempre foi o protótipo do nerd. Mas isso não significa que a Microsoft queira ser vista como uma marca sem graça, enquanto a Apple conquista os consumidores mais descolados do mercado. A provocação da Apple foi um dos argumentos para a empresa dar início a uma tentativa de mudança de sua imagem pública - e a estratégia apresenta muitas semelhanças com o que a Apple fez até aqui.

A primeira providência tomada pela empresa de Gates para ficar mais parecida com a de Jobs foi contratar uma nova agência de publicidade para administrar sua conta de 300 milhões de dólares. A escolha recaiu sobre a Crispin Porter + Bogusky (CP+B), conhecida pela inovação e pela ousadia de suas campanhas - e pelo apelido de "Apple da propaganda". Em menos de cinco anos, a CP+B passou do status de agência marginal para o de primeiro time da propaganda, apoiada em uma receita que mistura campanhas recheadas de nonsense e humor negro com ações de grande impacto na internet - uma combinação que não raro acaba em polêmica. Em seu anúncio de estreia para a Microsoft, a CP+B contratou o humorista Jerry Seinfeld, por 10 milhões de dólares, para contracenar com o próprio Bill Gates em um estranho filme que se passa em uma loja de sapatos. A única menção a tecnologia no anúncio é quando Seinfeld, à saída da loja, pergunta a Gates se algum dia haverá computadores "úmidos e fofos como bolos para que a gente possa comê-los enquanto trabalha". Surpreendentemente, Gates responde que sim, com um rebolado enquanto equilibra um churro na mão. O filme, veiculado em setembro, provocou uma chuva de críticas e piadas na internet. A Microsoft chegou a divulgar uma nota a respeito. "Alguns podem se perguntar o que Jerry Seinfeld ajudando Bill Gates a escolher um novo par de sapatos tem a ver com software. A resposta, no mais clássico estilo Seinfeld, é nada. No entanto, o anúncio é o primeiro sinal de um ambicioso esforço da Microsoft em se reconectar com os consumidores ao redor do globo", anunciou a empresa.

Um segundo filme da CP+B, também com Seinfeld e Gates, colocou a dupla em uma típica casa americana enfrentando o desafio de se comunicar com "pessoas de verdade". O objetivo da campanha, dessa vez, ficou claro: ela mostrava como o Windows se tornou parte indispensável na vida de bilhões de pessoas no mundo todo. Duas semanas depois de veiculadas, as duas peças saíram do ar e foram substituídas por uma nova série de comerciais - ainda em exibição -, que respondem diretamente à provocação da série "Get a Mac", da Apple. Os filmes exibem pessoas de todas as partes do mundo, anônimas e celebridades, realizando tarefas relevantes e dizendo orgulhosamente "Eu sou um PC" ("I’m a PC"). O objetivo é mostrar que a imensa maioria dos usuários de computadores do mundo usa produtos Microsoft e que eles estão além do estereótipo exibido nas campanhas da Apple. Uma pesquisa realizada pela consultoria nova-iorquina Brand Keys com 400 usuários de produtos Microsoft e Apple revelou que, embora os anúncios com Seinfeld tenham sido mal recebidos pelo público, a série "Eu sou um PC" teve impacto positivo. Segundo os entrevistados, a campanha passava a imagem de uma empresa tecnologicamente avançada e responsável do ponto de vista ambiental e social. "A Microsoft foi bastante feliz em valorizar sua presença global e sua capacidade de conectar pessoas", diz Amy Shea, vice-presidente da Brand Keys e responsável pela pesquisa. "Até pareceu moderna no anúncio."

O plano de mudança da imagem da Microsoft perante os consumidores não se dá unicamente na frente publicitária. No mês passado, a empresa anunciou a contratação do executivo David Porter, que será o vice-presidente da nova divisão de varejo. O objetivo é montar uma rede de lojas que funcionem nos mesmos moldes das atuais Apple Stores, onde os consumidores poderão conhecer os produtos da Microsoft e contar com orientação especializada. Ainda não há definição de quando e onde as novas lojas entrarão em operação, mas uma espécie de unidade piloto foi aberta em janeiro na sede da empresa, em Redmont, nos arredores de Seattle. Batizada de Centro de Experiência de Varejo, a loja funciona como uma vitrine voltada para os varejistas que distribuem os produtos Microsoft. "Nosso foco hoje é o consumidor, seja ele de games, de programas para PC, de celular ou de aplicativos online", diz Osvaldo Barbosa de Oliveira, diretor-geral do grupo de serviços online e consumo da Microsoft Brasil. "Esse é o mercado que mais cresce no mundo e não podíamos ignorá-lo."

Essa não será a primeira vez que a Microsoft se aventura no varejo. Em 1999, a empresa abriu uma loja chamada microsoftSF, em São Francisco. A loja era dividida em 12 ambientes e exibia 160 produtos da Microsoft e 90 itens de empresas parceiras, além de produtos licenciados com a marca, como bonés, camisetas e canetas. Entre as atrações estava a Digital Art Gallery, onde displays especiais exibiam o espetacular acervo de imagens da Corbis, empresa que também pertence a Bill Gates. A experiência, no entanto, naufragou e a loja foi fechada dois anos depois. Uma das explicações para o fracasso foi a falta de profissionais treinados para atender o público e fornecer explicações sobre os produtos - um dos grandes atrativos das lojas da Apple de hoje. A questão que se coloca para a Microsoft agora é se a estratégia de abrir uma rede de lojas é compatível com a crise que atinge a economia americana. A queda no consumo já fez grandes baixas no setor de varejo de eletrônicos - a rede Circuit City entrou em concordata em novembro, enquanto a Best Buy registrou queda de 6,5% nas vendas no último trimestre do ano passado. Mesmo a Apple, que tem se mantido incólume em meio à crise, enfrentou problemas em suas lojas, cuja média de vendas por unidade entre setembro e dezembro de 2008 foi de 7 milhões de dólares, ante 8,5 milhões no mesmo período de 2007. "A Microsoft está colocando o carro na frente dos bois: não são as lojas que trazem compradores para os produtos, mas sim produtos inovadores é que trazem os compradores às lojas", diz o analista Allan Krans, da consultoria Technology Business Research. "A Apple abriu suas lojas quase simultaneamente ao lançamento do iPod, enquanto a Microsoft não tem nada de revolucionário para mostrar."

O movimento da Microsoft para cativar os consumidores ocorre em um momento difícil para a empresa. Todas as suas tentativas para conter o avanço da rival ou alcançar um novo patamar de crescimento nos últimos dois anos não deram os resultados esperados. O Zune, lançado em novembro de 2006 para concorrer com o iPod, caiu na vala comum dos tocadores de MP3, sem uma fração do brilho ou do charme do aparelho da Apple. O novo sistema operacional da empresa, o Vista, que substituiu o Windows XP em 2007, teve um lançamento catastrófico com uma série de falhas e defeitos que emperravam as máquinas e impediam sua conexão com outros equipamentos. Apesar das mudanças e das correções feitas, o Vista teve sua imagem irremediavelmente comprometida, e o novo sistema operacional da empresa, o Windows 7, só deve chegar ao mercado no início de 2011. No começo do ano, os fracos resultados do último trimestre de 2008 (faturamento 900 milhões de dólares abaixo do esperado) levaram a Microsoft a anunciar o corte de até 5 000 funcionários, a primeira demissão em massa de sua história. Diante disso, a reconquista do consumidor por parte da companhia de Bill Gates é crucial. A Microsoft terá de provar que mesmo um nerd pode ter muitos encantos.

Em direção a uma nova internet

Por JOHN MARKOFF - NYT

Há duas décadas, um estudante universitário brilhante de 23 anos colocou a internet de joelhos com um simples software que saltou de computador para computador com rapidez vertiginosa, engarrafando totalmente a rede, então pequena, em questão de poucas horas.

O programa foi pensado apenas como brincadeira digital. Desde então, porém, as coisas vêm se agravando muito. Cada vez mais engenheiros e especialistas em segurança pensam que a segurança e a privacidade na internet se tornaram tão frágeis que a única maneira de consertar o problema é recomeçar do início.

Qual poderia ser a cara de uma nova internet é algo ainda largamente debatido, mas uma alternativa é criar o que na prática seria um "condomínio fechado", cujos usuários abririam mão de seu anonimato e de certas liberdades em troca de segurança. Já é esse o caso hoje de muitos internautas a serviço de empresas e governos.

À medida que a rede nova e mais segura for amplamente adotada, a internet atual pode acabar sendo relegada à condição de bairro perigoso do ciberespaço. Você entraria nele por sua conta e risco e ficaria atento aos perigos enquanto estivesse navegando. "Se não nos dispusermos a repensar a internet de hoje, estaremos simplesmene esperando acontecer uma série de catástrofes públicas", disse Nick McKeown, engenheiro da Universidade Stanford, na Califórnia, envolvido na construção de uma nova web.

Esse fato ganhou destaque no ano passado, quando um programa de software malicioso -aparentemente desencadeado por criminosos do Leste Europeu- apareceu de repente, depois de desviar-se facilmente das melhores ciberdefesas do mundo. Conhecido como Conficker, ele rapidamente infectou mais de 12 milhões de computadores, devastando desde o sistema de computadores hospitalares do Reino Unido até as redes de computadores das Forças Armadas francesas. Uma versão nova do programa, conhecida como Conficker B++, foi lançada em fevereiro, depois de equipes de segurança de computadores terem inoculado o original.

O Conficker ainda é uma bomba-relógio ativada e demonstrou que a internet ainda é altamente vulnerável a um ataque coordenado. "Se você procura um Pearl Harbor digital, já temos os aviões japoneses no horizonte, voando em nossa direção", disse Rick Wesson, executivo-chefe da consultoria de computadores Support Intelligence.

Os criadores da internet jamais imaginaram que a rede um dia carregaria o peso de todas as comunicações e o comércio do mundo. Pouca atenção foi dada à segurança. Desde então, esforços imensos foram feitos para proteger a rede, mas com poucos resultados. "Sob muitos aspectos, provavelmente estamos em situação pior do que estávamos 20 anos atrás", disse Eugene Spafford, diretor-executivo do Centro de Educação e Pesquisas em Segurança da Informação da Universidade Purdue, no Estado de Indiana. "Isso porque todo o dinheiro foi dedicado a remendar os buracos atuais, em lugar de investir no redesenho de nossa infraestrutura." Apesar de uma indústria global crescente de segurança de computadores, cuja receita projetada para 2010 é de US$ 79 bilhões, e o fato de que, em 2002, a própria Microsoft lançou um esforço para melhorar a segurança de seus softwares, a segurança na web continua a deteriorar-se.

Mesmo as redes militares mais fortemente protegidas já mostraram ser vulneráveis. Em novembro passado, o comando militar americano encarregado das guerras do Iraque e do Afeganistão descobriu que suas redes de computadores tinham sido infectadas com softwares que podem ter permitido um ataque devastador de espionagem. É por isso que cientistas armados com dólares de pesquisas federais estão estudando, em colaboração com a indústria, a melhor maneira de recomeçar do zero.

Em Stanford, onde foram projetados os protocolos de software da internet original, pesquisadores estão criando um sistema que possibilitará colocar uma rede mais avançada sob a web de hoje. Até meados do ano, essa rede mais avançada estará funcionando em oito campi universitários nos Estados Unidos. A ideia é construir uma internet mais segura e capaz de suportar uma nova geração de aplicativos ainda não inventados.

O projeto Tábula Rasa de Stanford vai dotar criadores de software e hardware de uma caixa de ferramentas para fazer dos elementos de segurança uma parte mais integral da rede. Apesar de todos esses esforços, porém, os verdadeiros limites à segurança dos computadores podem estar na natureza humana. "Assim que você começa a lidar com a internet pública, todo o conceito de confiança vira um atoleiro", disse Stefan Savage, especialista da Universidade da Califórnia em San Diego.

Uma rede mais segura quase certamente oferecerá menos anonimato e privacidade. Essa é provavelmente a maior concessão que os criadores da próxima web terão de fazer. Mas comprovar identidade deve continuar a ser muito difícil, em um mundo em que é tão fácil invadir qualquer computador. Enquanto isso persistir, construir um sistema totalmente confiável continuará a ser virtualmente impossível.