Sustentabilidade – A natureza
é o nosso bem mais precioso?
Outro dia escutei essa frase de um aluno do segundo grau de
uma importante e renomada escola de São Paulo, que além de trabalhar com a fina
classe “A” da cidade, ainda proporciona aos seus alunos a oportunidade de estender
seus conhecimentos por diversas áreas e atividades extracurriculares bastante relevantes
e inovadoras.
Mas minha reflexão me leva a pensar sobre o que é realmente
um bem assim tão precioso...
Um bem muito precioso é o que nos dá uma grande sensação de
prazer em possuí-lo. Dá-nos status,
conforto, ou nos proporciona a sensação de nos diferenciar dos demais, de poder
fazer mais do que os demais. Além disso, pelo fato de ser um bem, implica em
posse.
Ora, a Natureza não e o “nosso bem mais precioso”, pelo
simples fato de que ela não nos pertence. E ela não se presta a nos dar status,
bem estar, prazer ou nos diferenciar dos outros, como um diamante, uma bela
casa ou um carro de luxo nos fariam.
Além disso, essa postura da humanidade em enxergar a
natureza com dó, por estar sendo consumida além de suas próprias capacidades de
auto recuperação, ainda é para mim um dos principais motivos pela nossa inércia
no assunto.
No fundo, mesmo sem ter a total consciência, achamos legal
ter pena da natureza, está na moda, esta posição nos deixa com ares de “descolados”.
Não entendemos que na verdade vamos desaparecer junto com
ela... Vamos morrer... E não via haver tecnologia ou um ticket especial só para
os VIPs que dará jeito.
Precisamos abolir essa postura de olhar a natureza, o
planeta e todo o Universo como algo que está fora da nossa essência, e que
podemos até assumir que a possuímos como se ela fosse um bem a disposição.
Intelectualmente esta mudança de postura pode parecer
superficial, mas se realmente alcançarmos a sutileza desta mudança de postura,
de forma ampla, global e irrestrita, talvez ainda tenhamos algum tempo para
mudar o curso da história que estamos escrevendo todos os dias e salvar a nossa
própria pele.
Como bem me ensinou um grande mestre há poucas semanas, não há
mais espaço em nosso mundo para assumirmos diferentes papéis, na empresa, na família,
na sociedade ou nos diversos círculos onde atuamos. E esta nova visão deve
permear tudo o que fazemos em todas as nossas atividades, em casa, na empresa,
na escola, no governo, na rua, na calçada, no restaurante, no parque, no
cinema, no avião, no banheiro, todo o tempo.
E não basta mais apenas agirmos corretamente e esperarmos
que o nosso exemplo venha na surtir efeito educativo. Temos que ser incisivos,
explícitos, claros e diretos o tempo todo.
Somos uma pequena parcela da natureza, e dependemos dela
para tudo o que fazemos. Nossa vida não existe sem um perfeito respeito e
equilíbrio de relações com todos os outros componentes da natureza e do planeta.
Essa é a grande lição que nos falta aprender, e por isso temos que mudar a nossa
concepção errada sobre o meio ambiente e sobre sustentabilidade.
Hoje entendemos o conceito de globalização, e sabemos que a
economia mundial está interconectada à economia cada uma das nações e à vida de
cada um de seus cidadãos. Sabemos que as crises, mudanças e flutuações no
equilíbrio de forças da economia global podem levar a catástrofes humanas e
sociais em larga escada e em curto espaço de tempo. Isso se dá graças ao gigantesco e não
identificado volume de relações que existem entre todos os atores envolvidos e
afetados pelo equilíbrio da economia global
Entendemos o papel de algumas das inter-relações que existem
entre as atividades diretas ou indiretas de extração, transporte, produção, distribuição,
comercio e consumo, de bens e serviços em todo o mundo. Começamos a perceber que adquirir produtos
mais baratos, pode significar que há algo fundamentalmente errado na cadeia de
processos que motivaram tal preço baixo. Ou temos mão de obra indignamente
tratada, ou temos matérias primas nocivas ou extraídas e produzidas de maneira
irresponsável, ou temos sonegação de tributos, ou ainda, temos a clara
exploração de outros empresários e inúmeros indivíduos ao longo da cadeia.
O mesmo ocorre com todo o Universo e com o nosso planeta. Existem
correlações diretas e indiretas entre tudo o que ocorre entre os diferentes
atores aqui inseridos.
Precisamos entender que o uso indiscriminado de antibióticos,
provoca o fortalecimento dos agentes causadores das doenças que eles combatem e
que isso é um desequilíbrio nas relações do planeta.
Precisamos entender que o uso indiscriminado de água e de
todos os recursos disponíveis atualmente, provoca desequilíbrio nas relações do
planeta.
Precisamos entender que as nossas escolhas quanto à produção
e principalmente ao consumo de energia nas mais diversas formas, provoca
desequilíbrio nas relações do planeta.
E principalmente precisamos entender que nossas ações em
detrimento de populações de diferentes espécies, habitantes deste planeta,
provocam profundos desequilíbrios nas relações do planeta. Principalmente as
ações que tomamos direta e indiretamente contra a própria espécie humana.
Não existe equilíbrio quando há pobreza extrema e quando há
pessoas submetidas a padrões imoralmente abaixo de qualquer condição de
dignidade. E esse problema não é exclusivo dos países pobres ou dos governos
corruptos, ou dos empresários inescrupulosos, ou dos lobies setoriais, ou das
instituições falidas que se dizem incapazes. É um problema de cada ser humano
que tem o privilegio de estar vivo neste planeta, pelo simples fato que nós
possuímos a capacidade de entender.
Vamos deixar de nos colocar na posição mais alta da pirâmide
do planeta, e vamos enxergar o planeta como um grande conjunto “caórdico” de
sistemas, onde temos a honra de estarmos mais próximos ao centro, graças ao
nosso longo desenvolvimento e à nossa capacidade cognitiva e social, e vamos
assumir o nosso papel de zeladores responsáveis. Vamos assumir o nosso papel de
“mães” do planeta e de todas as relações que existem nele, mesmo que não
estejamos conscientes da sua grande complexidade e de todas as suas causas, das
causas, das causas, e seus efeitos, dos efeitos dos efeitos.
No arranjo natural do planeta, antes da nossa intervenção gananciosa,
todos os conjuntos de unidades celulares, de indivíduos, de espécies, de
comunidades e de sistemas ambientais complexos, sempre foram capazes de trocar
matéria e energia entre si, de forma a permitir o crescimento ordenado e a
evolução da vida no planeta, sem provocar desequilíbrios danosos em escala
regional ou global.
Mesmo quando espécies desapareceram da face da terra em
diversos processos “cataclísmicos” ou não, antes mesmo do surgimento do homem, estes
eventos ocorreram em função da adaptabilidade e da evolução das condições para
a manutenção da própria vida, e nunca uma espécie prevaleceu de forma selvagem
e indiscriminada sobre todas as outras. Ou seja, mesmo quando o planeta produz
suas catástrofes, estas catástrofes não afetam a capacidade da vida em evoluir
e crescer, pelo contrario, pois alguns cientistas acreditam que não foi coincidência
ou um mero capricho o fato da era dominada pelos grandes répteis ter acabado
muito antes do surgimento dos primeiros hominídeos, pois segundo diversas concepções, não haveria condições ideais para o
desenvolvimento concomitante dos dois grupos no mesmo momento e no mesmo
ambiente.
Por isso precisamos mudar nossa errônea percepção de “ápice
da criação” para assumirmos nosso papel equilibrado e participativo no planeta,
onde trocamos energia e matéria de
maneira participativa e sustentável com todos os nossos outros contemporâneos.